quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Turma da Mônica Jovem

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Turma da Mônica Jovem © Maurício de Souza Produções

Confesso que fico meio sem-graça de fazer crítica para o mestre Maurício de Souza, mas acho que às vezes ele erra a mão. O gol de placa que ele fez ao editar o clássico Pelezinho (que embalou as primeiras leituras quadrinísticas de minha infância) contrasta com a bola-fora do gibi do Ronaldinho Gaúcho, por exemplo.
Faço questão de deixar claro que não estou avacalhando com o gênio e herói do quadrinho nacional - uma vez que é uma rara excessão, um caso de sucesso gigantesco de quadrinista brasileiro dentro do próprio país... um país que não lê livros, quem dirá quadrinhos.
Sem contar as geniais histórias infantis, com um forte sabor brasileiro, com um toque nostálgico de um pequeno bairro ou cidade do interior do passado, onde as brincadeiras de rua eram uma deliciosa realidade, hoje impossível. Destaque pra aquelas histórias publicadas no final dos anos 70, início dos 80, que na minha modesta opinião são as melhores já publicadas da turminha do bairro do Limoeiro.
Já que citamos "Pelezinho" e "Ronaldinho Gaúcho", "em time que está ganhando não se mexe", já diz a máxima futebolística.
Fato: "Turma da Mônica Jovem" é uma versão crescida, algo como "O que aconteceria se... a Turma da Mônica fosse trabalhar na Malhação". Ou seja, a turma original, com os eternos seis ou sete anos de idade ainda continua firme e forte em seus títulos regulares. "Turma da Mônica Jovem" é um experimento e ninguém pode reclamar, porque eles mesmos deixaram isso bem claro na primeira edição. Vi a chamada em vários sites logo que saiu, em data bastante oportuna, em plena Bienal do Livro. Tive uma impressão não muito boa, mas preferi me calar até ter o exemplar folheado em mãos, pra não cometer injustiça.
Sendo assim, agora que já consumi o produto, vamos à resenha:
Tirando o uso de retículas, o fato do miolo ser em preto e branco (em papel jornal) e o uso de versões chibi para demonstrar emoções não se trata de mangá. Aliás parece muito mais uma tentativa de embarcar num modismo, pra ver se aumenta o público. Tentativa arriscada, porque o consumidor de mangá consome o que já sabe que vai consumir. Transpor dois estilos tão diferentes tem seus problemas... uma primeira coisa que a gente observa é que o roteiro não decide se é shonen ou shoujo - beco sem saída, porque a turma da Mônica não escolhe publico, masculino ou feminino.
Traduzindo pra quem mora noutro planeta e nunca ouviu falar dessa divisão no mangá: O Shoujo são histórias para um público feminino, geralmente mais focadas no relacionamento interpessoal e nos anseios e dúvidas adolescentes. No Shonen, pros meninos, as histórias são mais heróicas e possuem um fundo moral que sempre gira em torno do herói derrotado que dá a volta por cima, ou que mostra o valor da vitória quando se batalha muito. O roteiro pincela as duas coisas e não engrena nem prum lado nem pro outro.
Faltam mais coisas. A passagem lenta do tempo. A valorização da câmera-lenta e do silêncio como efeito dramático. O uso pictórico das onomatopéias. Nem os rostos dos personagens estão, com excessão do brilho nos olhos, muito diferentes do tradicional traço aplicado em personagens adultos como o Rolo e a Tina, na linha não-manganosa do estúdio. Não têm o rosto anguloso e estilizado do mangá para o público adolescente.
Aplaudo a coragem, mas receio que irá desagradar parte do público cativo e não irá atrair muito os fãs do gênero mangá.
Bom, se ao menos eles obedecerem uma das tradições do mangá, que é o arco de histórias, ou seja, uma série que tem fim, se tornará curiosidade, e é possível que mesmo não indo bem nas vendas ( o que não é bem o caso, porque na primeira semana já vendeu 57% da tiragem) cumpra seu objetivo de artigo experimental e instrumento de reconhecimento de novas fórmulas e se torne um ítem de colecionador, como as tentativas de graphic novel, como o "Batmenino eternamente" e os "Doze trabalhos de Mônica".
Mas não corra às bancas achando que você vai consumir mangá.
Nem corra às bancas achando que vai ler um gibi da Mônica.
Tem algumas tiradas inteligentes, dignas das revistas da turma, mas não tem nem o humor característico da série tradicional, nem se definiu dentro de algum estilo mangá. Nem como paródia.
Comprei, mas não sei se vou atrás do número dois.
Sim, porque a história é em capítulos.
Também não sei se recomendo.
É isso (como diria Pasquale Cipro Neto).

5 comentários:

Unknown

nho que discordar de você a versão jovem está muito legal sim e ele já disse que ele não queria fazer um etilo mangá q ele só fez um desenho com traços parecidos com o mangá mais não que o roteiro da história tenha q ser no estilo de um manga até porque se for assim vai perder a originalidade da revistinha que afinal é BRASILEIRA....Eu gostei muito do novo estilo e acho que vai sim ser aceito pelo público a qual deve atingir!

Natanael

Natanael:As vezes caimos no mundo das criticas,e esquecemos do trabalho e empenho que as pessoas tiveram em desenvolver um determinado trabalho,sei que possui falhas mas,o que é perfeio nesse mundo,nada,so a terra em si é perfeita,mas nós que vivemos e fazemos coisas e mais coisas somos totalmente cheios de defeito,agora imagine um trabalho feito por nós,sempre averão criticas e mais criticas.
Gostei do traço da revista,tem seus defeitos,não faz meu estilo de quadrinho,mas gostei,não desaprovo,pois é tentando que se sabe se vai dar certo ou não.
Um abraço aos leitores e ao dono do blog.valeu

Fabio Vicente

Valeu pelos comentários, amigos...
Mas ainda faço questão de afirmar que não é mangá, conforme o selo da panini informa. Nesse ponto que acho uma aposta perigosa, porque quem consome mangá, shonem, shoujo, gekigá, ou seja lá o que for, já sabe o que espera.
Continuo respeitando o gênio Maurício, mas ainda acho que foi mais uma bola fora.

Alexandre

Vou ser sincero, não gostei dessa nova versão. Primeiramente pq é só você folhear algumas páginas para começar a perder a vontade de ler (deu um sono enorme)...A história não teve emoção, coisa encontrada até nos piores desenhos....outra acho que eles deveriam encerrar essa história e acabar com essa revista, pois na minha opinião a partir da 2º edição será apenas prejuízo para eles....

Fabio Vicente

Alexandre,

Pois é.
Vale apenas como curiosidade.
O roteiro é fraco, mesmo. Não é má vontade. Tem coisa bem mais genial sendo feita lá dentro.
Eu li um especial do Cascão de fábulas que tava muito legal.
Fica a pergunta: pra que se mexer em time que está ganhando?
Acredito que a aposta não foi só pra criar um especial... a intenção era tornar fixo.
Mas acredito que a coisa até vá além das 4 revistas, porque está vendendo... só não sei se tanto quanto os títulos regulares e se essas vendas justificam a manutenção do custo de produção...

 
Arte Seqüencial, o blog ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates